terça-feira, 9 de outubro de 2012

As mulheres, os negócios e as mulheres de negócios

Portugal é um país machista.

Em Portugal, um país onde a mulher tem de trabalhar, em média, mais 4 meses do que um homem na mesma posição para auferir o mesmo ordenado, num país onde o desemprego sobe galopante (sempre maior entre as mulheres), onde os direitos dos trabalhadores (principalmente das trabalhadoras) são atropelados diariamente, onde o número de mulheres no ensino superior (60,1%) e em doutoramento é significativamente superior ao número de homens (51,6%), sempre me pareceu estranho que haja tão poucas mulheres empreendedoras. Então voltamos à primeira premissa, a de que Portugal é um país machista. As mulheres ainda, em pleno século XXI, são vistas como criaturas frágeis, fadas do lar, entidades de família e de estabilidade. E não são os homens que as vêm dessa forma, é toda a sociedade, mas principalmente elas próprias.

Ser-se empreendedor não é, como os últimos governos nos querem convencer, criar o próprio emprego. Ser-se empreendedor não é uma solução para o desemprego, para a precariedade ou para, finalmente, podermos auferir melhores salários. Ser-se empreendedor é correr riscos. É acreditar em ideias, transformá-las em projectos e ter vontade e força e conhecimento para os pôr em prática, sempre com a perfeita noção de que falhar e perder faz parte do risco. E às mulheres portuguesas nunca ninguém ensinou a correr riscos. Nunca ninguém as estimulou desde tenra idade para jogar e competir. Não acredito na ideia de que as meninas brincam com bonecas, vestindo e despindo, apenas por motivos genéticos. Acredito sim que isto é o reflexo da nossa sociedade ainda muito conservadora em termos de género que estimula desde cedo os rapazes para a competição (jogos activos e desporto) e as meninas para brincadeiras mais calmas, mais seguras, poucas correrias para não rasgar o vestido. A competição, o querer ganhar, o jogo de vencermo-nos a nós próprios e não aos outros é uma condição necessária para o empreendedorismo.

Portugal mudou muito nos últimos 35 anos. Antes de 74, a grande maioria das mulheres portuguesas ficava em casa, tratava dos filhos e das tarefas domésticas de uma forma natural. De um momento para o outro, de uma forma quase abrupta, começaram a sair de casa, a querer mais, a querer ter uma vida activa na sociedade, produzir, criar, ter uma vida profissional independente da vida familiar e em poucos anos as mulheres espalharam-se e ocuparam todas as áreas do mercado de trabalho, provando que a ideia retrograda de que o lugar da mulher é em casa, era só uma amarra e não verdade. Mostraram força, dedicação, esforço, criatividade e capacidade em todas as áreas do mercado laboral. Isto foi uma vitória brutal para as mulheres – uma verdadeira revolução na sociedade portuguesa! Mas esta revolução, como a maioria das revoluções, foi feita demasiado depressa e muitas das promessas ficaram por cumprir. Na ânsia de ganhar espaço no mercado de trabalho, a mulher acumulou as novas funções com as anteriores, não descurando a casa, não descurando as compras e a família, tornando-se a Super-Mulher com 2 empregos. Nos dias de hoje, é reconhecido que a grande maioria dos homens ajuda em casa. Vou repetir – a grande maioria dos homens AJUDA em casa. E nós, mulheres, agradecemos. Agradecemos e achamos que temos mais sorte do que as nossas avós. No século XXI, nenhum homem devia orgulhar-se de dizer que ajuda em casa. As tarefas em casa deveriam ser partilhadas. Mas em 2012, em Portugal, as mulheres trabalham, em casa, para além do seu emprego, mais 17 horas semanais do que os seus companheiros. Trabalham porque precisam de trabalhar, porque a sua educação e o subconsciente colectivo da nossa sociedade continua a ver a mulher como o garante de uma casa confortável, de uma refeição a fumegar em cima da mesa e de crianças com banho tomado e risca ao lado. Porque as mulheres ainda não reivindicaram para si próprias o direito da partilha das tarefas domésticas e ainda se sentem, inconscientemente, culpadas pelo desconforto das meias espalhadas pelo chão da casa.

No entanto, nos últimos anos, o número de mulheres empreendedoras tem aumentado significativamente, sendo já promotoras de 33% das novas empresas criadas. Numa altura em que o culto do empreendedorismo é vendido como a salvação para a crise no mercado laboral, espero que estas grandes mulheres não sejam as vítimas maiores deste discurso enganador e que agarrem a liberdade de liderar os seus próprios negócios com força e vontade e que criem muitas e muitas empresas de sucesso.

Ser-se empreendedor, em Portugal, na actual conjectura económica (o que quer que isto signifique) é difícil. Ser-se empreendedora é um desafio ainda maior e apenas com uma dose de coragem e uma outra de loucura é que se dá o primeiro passo.

Em Portugal arriscar, continua a ser coisa de rapazes e por isso, o empreendedorismo continua a ser coisa de homens.  Enquanto as mulheres não se sentirem iguais, enquanto sobrar para elas, além das horas de trabalho diário, as máquinas de lavar e as compras, as crianças e organização das gavetas, enquanto elas próprias não assumirem que o seu valor não é o reflexo da  limpeza da sua própria casa, não poderão esperar que a sociedade lhes dê a igualdade. Acima de tudo, enquanto as mulheres deixarem que esta imagem delas próprias lhes encurte os passos e limite as opções, não teremos igualdade de género em Portugal.

Helena Gomes

Referências
Instituto Nacional de Estatística - "Estatísticas no Feminino" (PDF)


Biografia
Tenho 33 anos, sou licenciada em Medicina Veterinária, fiz um estágio numa conceituada Universidade Norte-Americana, tenho uma pós-graduação em Medicina Interna de Animais de Companhia e desde Junho de 2011 sou, a tempo inteiro, empresária na área da hotelaria.
Participo neste blog enquanto umas das formandas do Projecto de Empreendedorismo Feminino de Valor Acrescentado da Tecminho, projecto este que me deu as bases para a criação do Braga POP Hostel e espero usar este espaço para expor algumas das minhas ideias sobre as mulheres, o mundo dos negócios e outros assuntos, como o processo da cura do bacalhau. Se por acaso me cruzar com alguma receita de culinária digna de registo, prometo também a partilhar aqui.

2 comentários:

Filomena Ferreira disse...

Olá Helena! Adorei o teu texto. Engraçado que lá em casa a quase totalidade das tarefas domésticas é partilhada, nem por algum momento equacionei que pudesse ser de outra forma, mas ainda assim, deixaste-me a pensar. De certa forma, ainda me sinto "culpada pelo desconforto das meias espalhadas pelo chão da casa", quando deveria estar mais preocupada com o plano de marketing da minha empresa. Não é fácil, acho que vou ter que reler as tuas palavras periodicamente para reafirmar/reajustar prioridades. Bjinho e obrigada
Filomena

SANDUCKVILLAS disse...

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